com a presença da poetisa Ana Luísa Amaral
é um dos momentos da Feira do Livro de Leça da Palmeira.
Enternece-me pensar que estás aí,não força de trabalho desigualnem vida à pressa,mas minha amiga.Talvez as palavras que te digome transpareçam classe,talvez nem te devesse dizer nada.Porque és a mão que ampara o meu silêncio,a minha filha, o meu cansaço— à custa do teu cansaço, da tua filha,do teu silêncio.Não há homens-a-dias neste mundo,mas tantas como tu,a segurar nas mãos e no sorrisoalgumas como eu.Entraste há pouco a perguntarse eu tinha febre— a louça por lavar nas tuas mãos,aspirando o cansaço dos meus ombros,nos teus ombros o cansaço de mime o cansaço de ti.Desculpa os meus silêncios,o falar-me contigo como com mais ninguém,desculpa o tom sem pressa— e o meu dinheiro que não chega a nada,comprando o teu trabalho(o teu sorriso)ANA LUÍSA AMARAL, Às Vezes o Paraíso, (2ª edição), QuetzalEditores, Lisboa, 1998: 72, 73
Celestina
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